abril 15, 2012

Cidades... Multicolores...


E lá andava eu pelas movimentadas ruas daquele centro que mais parecia um cinzeiro com pessoas queimando a pele naquele sol de Janeiro, andavam rápido e consumiam a vida da mesma forma. A maioria apenas passava com objectivos simples que não iam longe daquele lugar, pessoas que se cruzavam umas pelas outras, no máximo a intimidade que tinham era quando alguém ia contra alguém e de seguida um simples “desculpe”, ou por vezes nem isso… Enquanto isso, sentado em uma cadeira de bar, aquelas velhas cadeiras de metal com alguma publicidade de cerveja que surgem em todos os cantos, um velho bêbado ou bêbado velho, aquela altura do campeonato não faria a mínima diferença, só observava com seu palito no canto esquerdo da boca, e pensava com ele mesmo.
-“Está a ficar tarde, melhor ir até casa”.
Aquele senhor com barba rala e grande, cabelo desgrenhado penteado de alguma forma para trás queria apenas deitar a sua cabeça cheia de cerveja em um travesseiro qualquer, enquanto isso indiferente a seus pensamentos passava uma loira caminhando em direcção de algumas amigas que estavam à esperar. Não qualquer uma, mas sim aquela sensual mulher de belos adjectivos voluptuosos, mais conhecida como “a boa como o milho”; no mesmo momento também caminhava sem nenhuma alegria um rapaz, emo presumidamente, vestido com roupas às riscas, ouvindo alguma música, com seu cabelo liso feito em laboratório e seu andar de “japonês”, mas nada que tirasse o sono de uma senhora que passava com alguns vários sacos do mercado com aquele andar determinado de quem tem um jantar em casa esperando para ser criado e deglutido sem mais delongas por seu marido, que no momento assiste aos instantes finais de uma partida qualquer de futebol.
Passo a observar cada um, distraidamente, fascinado pelas pessoas em geral, quando algum mendigo com suas roupas furadas e uma mochila ao ombro surge como se tivesse brotado do asfalto para me pedir um troco qualquer com aquela velha conversa de quem tem que ajudar em casa e que a bebida passava longe das intenções dele.
–“ Uma moedinha para comprar de comer.”- mesmo antes que o cidadão terminasse seu discurso tirei uma moeda do bolso, um euro que talvez ajudasse a comprar uma cerveja, nada muito diferente do que aquele velho mendigo iria fazer logo de seguida.
“Boa sorte”, pensei eu enquanto ele virava as costas para mim contente de mais um objectivo alcançado, desejando que pelo menos uma vez não fosse para comprar um pacote de uma qualquer droga… Mas se for, a culpa será minha pois ajudei no patrocínio.

Perdi a paciência de ver a vida no meio do manto de pedra e cimento e decidi percorrer o caminho até casa e me desfazer de toda esta panóplia de pessoas diferentes, de expressões rudes e grossas, ou de amostras de belezas graduadas e plásticas. Será melhor os recantos e os silêncios lá de casa e ver todo esse mundo exterior através da caixa preta instalada para esse efeito lá em casa.

abril 13, 2012

Demissão...



PEDIDO DE DEMISSÃO
(por um retorno à alegria da vida!)


Venho por meio desta, apresentar oficialmente meu pedido de demissão da categoria dos adultos.
Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as ideias de uma criança de 8 anos no máximo. Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível. Quero que as complexidades da vida passem desapercebidas por mim e quero ficar encantado com as pequenas maravilhas deste mundo. Quero de volta uma vida simples e sem complicações.
Cansei dos dias cheios de computadores que falham, montanha de papeladas, notícias deprimentes, contas a pagar, cusquices, doenças e necessidade de atribuir num valor monetário a tudo o que existe.
Não quero mais ter que inventar um jeito para fazer o dinheiro chegar até o dia do próximo pagamento.
Não quero mais ser obrigado a dizer adeus a pessoas queridas e, com elas, a uma parte da minha vida.
Quero ter a certeza de que “Algo” está no céu, e de que por isso, tudo está direitinho nesse mundo.
Quero viajar ao redor do mundo no barquinho de papel que vou navegar numa poça deixada pela chuva.
Quero atirar pedrinhas na água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam e contar os saltos das mesmas. Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada.
Quero ficar feliz quando amadurecer a primeira cereja, a primeira manga ou quando a vinha ficar carregadinha de uvas.
Quero poder passar as tardes de verão à sombra de uma árvore, construindo castelos no ar e dividindo-os com meus amigos.
Quero voltar a achar que chicletes e gomas são as melhores coisas da vida. Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de bola ou de matrecos.
Quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores, a tabuada, as cantigas das brincadeiras de recreio...
Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que podem nos preocupar ou aborrecer.
Quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos agrados, das palavras gentis, da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos no ar e na areia.
Quero estar convencido de que tudo isso... vale muito mais do que o dinheiro!
A partir de hoje, isso é com vocês, porque eu estou-me demitindo da vida de adulto.
Agora, se o senhor/senhora quiser discutir a questão, vai ter de me pegar... Demita-se você também dessa sua vida chata de adulto...